Em algum lugar entre a infância sem internet e a vida adulta cercada por notificações, uma geração inteira começou a colapsar silenciosamente. Somos os millennials, os tais adultos de 30 e poucos (ou muitos) que cresceram num mundo onde tecnologia era exceção, e hoje tentam sobreviver num mundo onde ela virou regra, ritmo e muitas vezes tirana.
Estamos enfrentando uma espécie de crise de meia-idade, mas não por conta de cabelos brancos ou por não ter comprado um terreno nos anos 90. É uma crise causada pelo descompasso entre o que conseguimos processar e o que o mundo exige que a gente compreenda. O nome disso? Podemos chamar de sobrecarga cognitiva, burnout silencioso… Eu chamo de sedentarismo cognitivo forçado. (aquele meme do cérebro falando “se você não parar eu paro, hein”).
O salto da tecnologia e o bug humano
A verdade é que a tecnologia evoluiu em um ritmo que o cérebro humano não acompanha mais. Houve uma época em que a gente tinha tempo de se adaptar entre uma novidade e outra. Aprendemos a usar o Word, depois o PowerPoint, aí vinha o Orkut, o Instagram e tudo bem.
Contudo, hoje, enquanto estamos tentando entender uma ferramenta, cinco novas já foram lançadas e três já morreram. Simplesmente não é mais possível aprender no mesmo ritmo que a tecnologia evolui.
Nosso córtex pré-frontal, responsável por tomada de decisão, foco e planejamento, foi moldado ao longo de milênios para lidar com mudanças graduais, mas não com saltos exponenciais. Como resultado, criamos uma mente exausta, em constante estado de alerta tentando processar mais estímulos do que biologicamente damos conta.
A sensação é de estar tentando subir a escada rolante que desce: se você para, cai. Se corre demais, queima o motor. E aí nasce a exaustão. Não é que a gente não queira aprender, a gente simplesmente não tem mais capacidade cognitiva, emocional ou até mesmo espiritual para absorver tudo ao mesmo tempo. Não há santo que nos acuda!
Sedentarismo cognitivo ou cansaço de guerra?
Muito se fala sobre o tal “sedentarismo cognitivo”, como se estivéssemos ficando preguiçosos pra pensar. Mas eu discordo E MUITO. Comparar o uso de inteligência artificial com preguiça intelectual é como dizer que analgésico impede as pessoas de sentirem dor.
Entretanto, a IA não é o remédio que desliga os sinais vitais. Ela só ajuda a pessoa a continuar. Mas o que muitos ignoram é que nosso cérebro é um órgão conservador de energia. Pensar consome recurso. Literalmente.
A mente desliga o que não for urgente como um sistema de defesa, para evitar colapso. Isso não é preguiça. É economia neural. Eu não uso IA para pensar por mim. Eu uso para pensar melhor. Para organizar, provocar, complementar. Eu trago ideias, vivências, conceitos. A IA me ajuda a lapidar. É coautoria, não substituição.
O que nos leva ao ponto que ninguém gosta de admitir: não é a IA que está matando a criatividade, é o excesso de ruído, a falta de pausa e o famoso medo de ficar para trás.
A geração que foi criada para ser extraordinária… E cansou no meio do caminho
Nos prometeram que poderíamos ser tudo o que quiséssemos. Que daria tempo de ser CEO, fazer yoga, alimentar um feed bonito, cuidar da saúde mental e ainda pagar os boletos (deixe aqui sua risada).
Só se esqueceram de dizer que isso viria com uma avalanche de informações, milhares de decisões diárias, comparações constantes e um algoritmo que nunca dorme e definitivamente não gosta de gente. Nós, millennials, fomos educados para pensar, criar e liderar.
De repente, nos vimos soterrados por reuniões, demandas e uma constante sensação de que estamos atrasados, que não somos magros, inteligentes ou realizados o suficiente. O problema não é a IA, o celular ou o app novo de produtividade. O problema é que nossa mente ainda precisa de silêncio para ser criativa. E o silêncio, hoje em dia, virou artigo de luxo.
A IA é como trampolim, não uma muleta
Se usada com consciência, a inteligência artificial não rouba nosso pensamento, ela amplia. Ela organiza o caos das calls. Ela acelera o trivial para que sobre tempo e espaço para o essencial. O que precisamos é reaprender a pensar com profundidade, e não com velocidade. Além disso, aceitar que não dá pra competir com a máquina no que ela faz melhor, mas sim colaborar com ela pra fazer o que só a gente sabe: sentir, conectar, imaginar.
Quando a gente prioriza o que importa e aprende a usar as ferramentas para viver melhor e não mais rápido. Porque nosso cérebro não foi feito pra multitarefa constante. Ele precisa de pausa, foco e propósito para funcionar bem. Talvez, esse seja o maior hack de todos: aprender a cuidar da mente num mundo que lucra com o nosso caos.
Explore o lado estratégico da IA (sobretudo se você faz parte do grupo dos millenials)
Se, assim como eu, você quer sair do modo apertador de botão e aprender a usar a IA como aliada na criatividade e no raciocínio, existem cursos incríveis sobre o tema. E não estamos falando de virar programador. Estamos falando de usar a IA como extensão do pensamento, não como substituição da capacidade humana.
Dica: A PM3 oferece cursos práticos que ensinam a IA como copiloto da sua estratégia, criatividade e produtividade, sem perder o controle do volante. O mais recente é a nova formação de AI Product Specialist, que traz a Inteligência Artificial além dos prompts. Um curso essencial para desenvolver essa nova skill para o mercado de Produto.
A verdadeira revolução é interna
Muito se fala da revolução digital. Mas talvez a mais importante seja a silenciosa: aquela que começa quando você escolhe não saber tudo, prioriza o que importa e usa as ferramentas para viver melhor, não mais rápido.
Porque o que está em jogo não é só a nossa produtividade. É a nossa humanidade.
Quer aprofundar esse tema? Veja essas referências:
- Daniel Kahneman – Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar
- Nicholas Carr – A Geração Superficial
- John Sweller – Teoria da Carga Cognitiva
- Daniel Levitin – A Mente Organizada
- Cal Newport – Trabalho Focado
- Brynjolfsson & McAfee – A Segunda Era das Máquinas
- Cursos de IA da PM3 – Práticos, estratégicos e humanos