“Precisamos fazer um discovery!”
“Mas eu sei exatamente o que nossa cliente precisa…”
Se essa conversa soa familiar, você não está sozinho.
Com mais de 30 anos de experiência em gestão, desenvolvimento de produtos e transformação digital, o PCamp 2024 recebeu Joaquim Torres (Joca) para falar sobre Product Discovery, um processo muitas vezes subestimado ou mal compreendido.
Com exemplos práticos em grandes empresas como Gympass, Locaweb, Conta Azul, Lopes e Itaú, Joca conta que o Discovery não se trata apenas de criar o produto certo, mas também construir um mindset que sustente a inovação.
Frente a listas intermináveis de prioridades e a pressão de entregar o resultado, fica a reflexão: será que as equipes estão usando o máximo potencial do discovery?
Veja também: Por que o problem framing é tão importante para o Product Design?
Discovery como processo contínuo
De acordo com Mart Keigan, o trabalho de um PM se divide em duas grandes frentes:
- Descobrir qual é o produto certo (discovery);
- Fazer certo esse produto (delivery).
Joca reforça o mindset e complementa: “Discovery é mais que uma fase inicial: é um conjunto de ferramentas e práticas destinadas a mitigar os riscos inerentes ao desenvolvimento de produtos”.
Para ele, esses riscos podem ser categorizados em quatro pilares, e os custos de ignorar o discovery podem não compensar o risco.
- Valor: O produto atende às necessidades dos clientes?
- Viabilidade: A solução é tecnicamente possível?
- Usabilidade: Os clientes conseguem utilizá-la bem?
- Negócio: A solução é escalável e rentável à nível de negócio?
Sendo a validação de hipóteses um dos objetivos principais do framework, ferramentas simples como planilhas não devem ser subestimadas. Afinal, são soluções rápidas e baratas para mapear riscos e identificar pontos de falha antes de avançar com desenvolvimento.
Nesta provocação inicial, Joca compartilhou cases práticos envolvendo a aplicação de landing pages e anúncios pagos para testar ideias antes de desenvolver qualquer linha de código, a exemplo da ContaCal.
Principais erros do discovery
Reforçando a diferença entre discovery de problemas e discovery de soluções, a conversa também destacou os 4 equívocos mais comuns:
- Achar que discovery é um processo, aplicando a mentalidade como um evento isolado, ao invés de um processo contínuo e iterativo;
- Acreditar que é preciso fazer discovery de tudo. Ou seja, investir tempo e energia na descoberta de cenários que dispensam sua aplicação completa, como questões regulatórias, funcionalidades urgentes e modelos mentais já validados.
- Resumir o discovery ao entendimento do problema. Essa atitude desconsidera a potência de seu uso para a etapa de descoberta da solução (também conhecida como solution discovery, onde surgem as ideias inovadoras).
- Achar que engenharia deve focar no delivery, centralizando todas as atividades de discovery nos times de design, sem o devido envolvimento dos times de tecnologia
Para fechar a lista, Joca destaca os riscos de acreditar que erros são ruins, e como esta cultura pode desmotivar iniciativas inovadoras e disruptivas a médio e longo prazo.
Outro case interessante foi o da empresa Etsy, sobre um novo engenheiro que deletou um arquivo em produção, derrubando o sistema e revelando uma fragilidade na estrutura. A empresa respondeu de forma surpreendente. Celebrou o erro como uma oportunidade de reconhecer suas vulnerabilidades. Além disso, homenageou o colaborador com o prêmio agora conhecido como “suéter de 3 braços”.
“Erros são inevitáveis, mas podem se tornar momentos de descoberta. Seja ao testar funcionalidades ou ao implementar provas de conceito, o aprendizado gerado é valioso para construir produtos mais robustos.”, conta Joca.
Discovery como cocriação
Mais do que uma etapa de desenvolvimento, o discovery é um catalisador de transformação organizacional. Afinal, envolve múltiplas disciplinas e promove uma cultura colaborativa. Para ser efetivo, não pode ser responsabilidade de um único time.
Seu sucesso exige o alinhamento entre produto, design, engenharia e negócios, criando um ecossistema de aprendizado contínuo e decisões baseadas em dados e hipóteses validadas. Quando bem implementado, o discovery se torna não apenas uma prática, mas um diferencial competitivo, que conduz as organizações rumo à inovação sustentável.
Encerramos com uma mensagem positiva e inspiradora de Joca, que reflete essa mentalidade: “A melhor maneira de mudar a cultura é através do exemplo.”
Sobre a redatora
Especializada em experiência do usuário e gestão de produtos, Isabella é integrante da comunidade PM3 e idealizadora do Laboratório de Foguetes, ecossistema de soluções em design e tecnologia. Apaixonada por criatividade e organização, acredita no poder de viver e construir boas experiências.