Para muitos PMs, liderar plataformas complexas parece assustador (especialmente sem background técnico). Mas como transformar essa complexidade em oportunidade?
No último Product Camp, realizado nos dias 3 e 4 de dezembro em São Paulo, Sheila Shang desmistificou este processo e compartilhou conosco sua experiência como PM no Ifood, uma das maiores estruturas de produto brasileiras.
Em sua jornada de transição entre produto e plataforma, fala sobre a importância da resiliência para superar as barreiras iniciais e seu caminho de aprendizado até a liderança de iniciativas robustas de integração tecnológica — “Pensei em desistir umas cinco vezes”, confessa.
Afinal, o que é uma plataforma?
Plataformas são sistemas que promovem conexões entre produtos, clientes e tecnologia. Elas atuam como um “ponto de encontro”, permitindo que diferentes soluções se integrem e colaborem, enquanto viabilizam escalabilidade e eficiência.
Segundo Sheila, a diferença fundamental entre plataformas e produtos tradicionais está na sua complexidade do ecossistema. Enquanto um produto foca em entregar valor direto ao usuário final, uma plataforma habilita a conexão entre produtos e usuários, facilitando a entrega em questão.
Ela explica que o desconhecimento técnico sobre APIs e integrações é um obstáculo recorrente para muitos PMs. Porém, não é necessário ser um expert em tecnologia: o foco deve estar em entender os impactos do trabalho técnico na entrega de valor.
Sheila também nos convida a pensar em uma metáfora simples: “Se você nunca trabalhou com moda e precisar vender uma calça jeans, vai precisar aprender sobre os cortes, lavagens e tamanhos diferentes. Com plataformas é mais ou menos a mesma coisa”, diz Shang.
Plataforma como Produto
Para estruturar o trabalho e medir a maturidade da plataforma, ela sugere o uso do Lean Canvas como ferramenta estratégica para orientar o novo PM, que precisará responder:
- Quem são os clientes da plataforma?
- Quais problemas eles enfrentam?
- O que a plataforma oferece hoje?
- O que queremos entregar no futuro?
Essas perguntas orientam tanto a estratégia quanto a operacionalização do produto, em um cenário onde entender o vocabulário, mapear riscos de negócio e cocriar estruturas são os pontos-chave para uma boa gestão.
Além disso, acompanhar números como tempo entre integrações, latência, taxa de adoção de funcionalidades é essencial. Métricas estratégicas como Net Promoter Score (NPS) também ajudam a entender o impacto da plataforma no negócio, e são indispensáveis para acompanhar a experiência e eficiência da solução oferecida.
Platform Thinking na prática
Ao longo da palestra, também foram compartilhadas algumas dicas práticas para PMs não técnicos, como:
- Otimize reuniões: identifique e elimine redundâncias na agenda, focando no essencial;
- Aplique práticas de Design Thinking: explore o uso de ferramentas de design (como blueprints e jornadas do usuário) para construir e facilitar a jornada das equipes internas;
- Entenda a arquitetura de informações: entenda a lógica e organização dos dados internos, garantindo nomenclaturas descritivas e consistentes
Destacou-se ainda a importância de aprender o básico do “tecniquês” para se comunicar com gerentes de engenharia e CTOs. Além disso, participar de dailies (cerimônias ágeis), com o objetivo de aprender e questionar a agenda existente.
“Saber quando contribuir e quando apenas participar é um diferencial crucial.” — diz Sheila.
Estudar para plataformizar
Em resumo, ser um PM de plataforma exige resiliência, curiosidade e aprendizagem contínua. Ao dominar o básico da estrutura e liderar com estratégia, é possível construir ecossistemas robustos que impactam diretamente o negócio.
Enquanto a nomenclatura e o escopo da função podem variar, o conhecimento é uma moeda de troca valiosa. Portanto fazer boas perguntas segue uma das ferramentas mais importantes de serem dominadas.
Sobre a Palestrante
Sheila Shang é autora do livro Gestão de Plataformas e APIs para Product Managers Não Técnicos e facilitadora de cursos, workshops e mentoria para pessoas e times de plataforma. Com mais de 20 anos de experiência em design e produto, atuou como PM no iFood, em um ecossistema de mais de 150 integrações.
Sobre a Redatora
Especializada em experiência do usuário e gestão de produtos, Isabella é integrante da comunidade PM3 e idealizadora do Laboratório de Foguetes, ecossistema de soluções em design e tecnologia. Apaixonada por criatividade e organização, acredita no poder de viver e construir boas experiências.